Descrita pela primeira vez em 1942 por Terry, a retinopatia da prematuridade (ROP), até então chamada de fibroplastia retrolental, já era uma patologia importante relacionada a cegueira bilateral em prematuros. Apenas em 1951, Health denominou esta entidade como retinopatia da prematuridade e na mesma época Campbell associou sua ocorrência ao uso de oxigênio em recém-nascidos.
A ROP tem sido considerada uma das maiores causas de cegueira infantil em todo mundo. O aumento da sua incidência se deve a melhoria na qualidade assistencial de prematuros extremos e com muito baixo peso ao nascimento, levando ao aumento considerável da sobrevivência de tais pacientes. No Brasil, estima-se que a cegueira causada por esta doença atinja entre 500 a 1.500 pacientes por ano, sendo assim a maior causa de cegueira bilateral infantil na atualidade.
A patogênese da ROP ainda não está totalmente esclarecida, durante muitos anos acreditou-se que apenas os elevados níveis de oxigênioterapia estariam relacionados à patologia, porém atualmente confirmou-se que apesar do controle rigoroso dos níveis de oxigênio oferecidos aos prematuros, estes pacientes desenvolviam a doença. Logo, estes fatos demonstraram que a ROP é uma doença de causa multifatorial.
No processo de formação embrionária, a vascularização da retina nasal se completa ao redor da 32ª semana de gestação, enquanto na retina temporal a vascularização apenas se completa ao redor de 40 semanas ou logo após o nascimento a termo. Após o nascimento, o oxigênio suplementar que é oferecido ao RN leva a hiperóxia, que por sua vez desencadeia vasoconstrição, isquemia periférica e interrupção da formação de vasos na retina. Se for mantida por um período maior de tempo, a hiperóxia estimula a produção do fator de crescimento do endotélio vascular, que gera neovascularização indesejada da retina.
Estudos recentes demonstraram que baixos valores séricos de IGF- I nas primeiras semanas de vida estão relacionados ao aumento da incidência de ROP posteriormente, e que a gravidade da doença poderia estar relacionada ao período de duração e IGF-I baixo no soro de prematuros.
Como já falamos, a ROP é uma doença multifatorial, logo podemos citar diversos fatores de risco associados a essa doença, como oxigênioterapia prolongada, prematuridade, baixo peso ao nascimento e gravidade do RN. Alguns fatores como uso materno de esteroides e betabloqueadores, exposição à luz intensa nos berçários, uso de corticoide, baixo ganho ponderal, gemelaridade e hemorragia intracraniana também tiveram algum grau de relação com a doença, ainda não totalmente esclarecido.
A classificação internacional da ROP foi desenvolvida em 1984 e revisada em 2005. Esta classificação localiza a doença em um mapa da retina dividido em três zonas e descreve sua extensão de acordo com os meridianos envolvidos, contados em horas de relógio.
Diagnóstico
A melhor forma de diagnosticar a ROP é através da triagem dos recém-nascidos. Todos os prematuros com peso de nascimento inferior ou igual a 1.500g e/ou IG menor ou igual a 32 semanas devem realizar exame oftalmológico entre a quarta e a sexta semana de vida com oftalmoscopia binocular indireta (OBI) e dilatação das pupilas. O seguimento dos recém-nascidos deve ser feito de acordo com os achados do exame inicial e a interrupção dos exames só deve ser dada quando ocorrer a vascularização completa da retina ou o bebê atinja idade gestacional corrigida de 45 semanas.
Tratamento
O método de escolha para o tratamento da ROP é o laser aplicado através da OBI. Tal método vem alcançando bons resultados no controle da progressão natural da doença. Alguns estudos mencionam o uso de medicações anti-VEGF no tratamento da ROP, que vem demonstrando melhora nos casos de maior gravidade.
Portanto, com os avanços da terapia intensiva neonatal e consequente maior sobrevida de prematuros extremos, a ROP vem se destacando com importante causa de morbidade a longo prazo, sendo assim um grande desafio para os profissionais desta área.