O termo “síndrome do crupe” caracteriza um grupo de doenças que variam em envolvimento anatômico e etiologia, e se manifestam clinicamente com os seguintes sintomas: rouquidão, tosse ladrante, estridor predominantemente inspiratório e graus variados de desconforto respiratório.
Podemos dividir a doença de acordo com sua localização: se a doença se restringir à laringe, denomina-se laringite, sendo caracterizada principalmente por rouquidão e tosse ladrante; se a inflamação comprometer laringe e traqueia, é denominada laringotraqueíte; por fim, se houver comprometimento de bronquíolos associado ao de laringe e traqueia, além dos sintomas de crupe, haverá tempo expiratório prolongado e sibilos, caracterizando laringotraqueobronquite.
Acomete crianças de 1 a 6 anos de idade, com pico de incidência aos 18 meses, predominantemente no gênero masculino. Embora a maioria dos casos ocorra no outono e inverno, o crupe viral se manifesta durante todo o ano. A etiologia viral de crupe é a mais comum, sendo os principais agentes os vírus parainfluenza, influenza A e B e vírus respiratório sincicial. Nas crianças maiores de 5 anos, tem importância etiológica o Mycoplasma pneumoniae.
A doença se inicia com rinorreia clara, faringite, tosse leve e febre baixa. Após 12 a 48 horas iniciam-se os sintomas de obstrução de vias aéreas superiores, caracterizados na síndrome do crupe, com progressão dos sinais de insuficiência respiratória e aumento da temperatura corpórea.
Crianças menores de 6 meses de idade, pacientes com estridor em repouso ou alteração do nível de consciência e detecção de hipercapnia indicam potencial risco de desenvolvimento de falência respiratória. Nesses casos, a oximetria de pulso deve ser realizada em todas as crianças com estridor, sendo importante salientar que a saturação normal de oxigênio pode gerar impressão falsa de baixo risco associado à doença, pois a luz destas vias aéreas se estreita marcadamente antes da criança ficar hipóxica. Em contrapartida, a hipóxia documentada indica doença avançada e falência respiratória iminente. Assim, hipoxemia diagnosticada na síndrome do crupe é indicativo de internação em UTI!!!
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado nos achados clínicos. Os achados clássicos de radiografia cervical com estreitamento da traqueia subglótica (sinal da ponta de lápis ou torre de igreja) são de pouco valor, uma vez que 50% das crianças com crupe viral clínica têm radiografia cervical normal. Assim, o exame radiológico cervical se reserva à investigação diagnóstica de outra etiologia para os sintomas de crupe (aspiração de corpo estranho), ou para casos em que a evolução da doença é atípica.
Tratamento
O objetivo do tratamento é a manutenção das vias aéreas patentes. O paciente deve ser mantido o mais calmo possível, evitando-se a manipulação e exames desnecessários. O uso de nebulização com solução fisiológica, ou ar umidificado, apesar de usual, não tem eficácia comprovada. A nebulização deve ser desencorajada se a criança se tornar mais agitada com o procedimento.
Os corticosteroides comprovadamente reduzem a gravidade dos sintomas, a necessidade e a duração da hospitalização. Tem sido recomendado o uso da dexametasona por ser um potente glicocorticoide e ter longo período de ação. Pode ser administrada tanto de forma oral quanto parenteral, em dose única, variando de 0,15mg/kg (crupe leve) até 0,6 mg/kg (crupe grave).
A epinefrina inalatória tem efeito ultrarrápido nos sintomas do crupe, diminuindo quase que instantaneamente o estridor e os sintomas de falência respiratória. Como o efeito da medicação é breve (2 horas), o paciente pode voltar ao estado de desconforto respiratório inicial após o final da ação desta droga.
A maioria das crianças com laringotraqueíte não requer intubação após o uso de epinefrina e dexametasona. No paciente em que a obstrução da via aérea é iminente, o procedimento deve ser realizado em ambiente bem controlado, pelo profissional mais experiente. A cânula traqueal deve ter 0,5 mm a menos, de diâmetro interno, do que o diâmetro ideal calculado para a idade da criança.
Outra patologia que engloba a síndrome de crupe é a traqueíte bacteriana, que se apresenta clinicamente como uma obstrução grave da via aérea superior. É uma doença rara, que emergiu como a principal causa de obstrução das vias aéreas superiores potencialmente fatal após a vacinação pelo Hib. Acomete principalmente crianças com até 6 anos de idade e predomina no gênero masculino.
O principal agente etiológico é S. aureus, mas estão implicados também, estreptococos, Moraxella catarrhalis e Haemophilus sp.
A doença combina manifestações clínicas de crupe viral e epiglotite. Após o pródromo viral breve, há aparecimento de tosse ladrante, rouquidão, estridor inspiratório e insuficiência respiratória.
A estes sinais de síndrome do crupe grave, associam-se febre alta (superior a 38,5°C) e toxemia. O desconforto respiratório pode progredir rapidamente, com obstrução total da via aérea.
Deve ser administrado antibiótico intravenoso para cobertura dos principais agentes, com o uso de cefalosporina de segunda (Cefuroxime) ou de terceira geração (Ceftriaxone) como drogas únicas. As complicações mais frequentes são falência respiratória, obstrução das vias aéreas, pneumotórax e síndrome do choque tóxico.
Portanto, devemos sempre estar atentos aos sinais e sintomas das patologias abordadas acima. Mesmo que algumas vezes sejam esquecidas pelos médicos, são patologias possivelmente fatais e que necessitam de rápida intervenção!